sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Família



Há alguns anos conquistei a minha liberdade financeira e há poucos meses me tornei totalmente dona da minha própria vida, pois a partir do momento que comecei a comprar meu próprio pão foi quando obtive minha real liberdade. Desde então tenho convivido muito pouco com a minha família, infelizmente, e confirmei aquela velha história que todos dizem: você só dá valor quando perde ou, no meu caso, quando a rotina determinou o meu afastamento.
Não há nada mais importante nesse mundo do que seus pais, irmãos e os demais parentes que constituem uma família, hoje eu finalmente percebo isso. Já houve época em que briguei incessantemente com eles. Passei anos sem direcionar um ‘oi’ para meu pai e irmão mais velho, tive uma infância de constante discórdia com meu irmão do meio; só em lembrar das minhas crises de ingratidão, sinto um enorme aperto no peito, uma angústia sem fim.
Hoje, além dos que passaram toda a minha vida ao meu lado, também adquiri três sobrinhos – meus pequenos anjinhos aos quais eu certamente daria a minha vida por eles, pois se um dia eu acreditei sentir o genuíno amor, engano meu, pois esse amor incondicional que sinto por essas crianças é algo novo pra mim, nunca senti igual e dificilmente amarei tanto alguém o quanto amo esses meninos. No natal desse ano de 2012, período em que normalmente não tem a mínima influência na minha vida, nunca senti uma tristeza maior por não poder ter estado em minha casa, na companhia desses que venho falando até então. Na minha área não existe dia ou noite, não existe feriado ou dia útil; toda hora é hora de trabalhar, e na véspera de natal eu fui a única a não beijar e abraçar quem eu tanto amo, isso ficará sempre na minha recordação e nas dispersas fotos em minha casa. Entendo perfeitamente que terão outros anos, mas esse em especial foi um em que eu lamento muito pela minha ausência, exatamente pelo fato de ter sido o ano que compreendi a fundamental importância que cada um tem para mim. Aos 25 anos de idade compreendi isso, chega a ser um absurdo, mas "antes tarde do que nunca".

Não existe nada melhor do que uma família unida, onde todos são os pilares um do outro. Tenho orgulho de dizer que a minha é um exemplo disso, ainda mais agora, com a chegada dos meus pequenos grandes amores. :)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Perda (não) Sentida


Acordo e ele nunca está lá. O silêncio prevalece sobre minhas manhãs, guiando uma busca pela essência do que já foi perdido. O que fazer para reatar os laços? Convenientemente, nada.

Na minha quebra de rotina, foi um ponto importante da minha vida que desfalcou.
Será que eu sinto a sua falta?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Humanos Desumanos


Eu e uma amiga do trabalho fomos convidadas pra realizar uma palestra no auditório do Hospital de Trauma, cuja temática é de cunho livre. Tentamos analisar um procedimento corriqueiro ou um simples tema polêmico para essa palestra, terminamos por escolher falar sobre “Humanização”.
Recobrando o conhecimento adquirido na universidade e pesquisando em referenciais teóricos oferecidos por uma professora, descobri que não fazia sentido palestrar sobre o assunto devido à humanização, teoricamente, ser uma atitude intrínseca ao ser humano – ou seja, uma característica própria que dispensa o ensinamento por terceiros. Mas o ser humano não funciona dessa maneira. Não é porque ele já devia ter nascido humanizado que, necessariamente, será humanizado. Na verdade, essa é uma grande regra.
Segundo o Aurélio, humanização significa “Elevar à altura do homem: humanizar uma doutrina. Tornar mais humano, mais sociável: civilizar”. Entende-se que algo inferior ao homem deve ser elevado para manter-se no mesmo patamar; ou algo superior à raça humana deve ser inferiorizado com o mesmo propósito. Um bárbaro cujo comportamento é similar ao do animal, para alcançar a linhagem humana deve enfrentar o processo de civilização, adquirindo, com isso, o direito de conviver com as demais raças consideradas superiores às dele. Ou seja, esse método é responsável por resgatar o bom relacionamento humano, através do respeito aos diferentes aspectos sociais, étnicos, educacionais e psíquicos de toda uma sociedade.
Humanização é um processo lento e gradativo, tendo como principal fator reparador a COMUNICAÇÃO – esta, sendo de grande ausência na rotina do cidadão. As pessoas não se comunicam mais, elas se esqueceram da importância que uma simples pergunta “Como você está hoje?” significa no psicológico do outro, acarretando em pessoas frias que não mais confessam seus sofrimentos e temores, agravando seus problemas quando guardados apenas para si. Devido aos baixos salários oferecidos (ignorando a roubalheira no meio político), as pessoas tendem cada vez mais a adquirir vários empregos para conseguir arcar com suas necessidades, gerando uma estirpe sem tempo para divertir-se com os amigos ou qualquer outro tipo de convívio social. Além do mais, hoje em dia a falta de comunicação é sinônimo da falta de educação, o que implica no mal atendimento ao cliente, seja em meio hospitalar, comercial ou nas diversas áreas onde a atenção ao consumidor deve prevalecer.
Conversem, comuniquem-se, respeitem! Propaguem o mundo no qual nossos ascendentes tiveram a oportunidade de conviver e que todos desejam para criar seus respectivos filhos, descartem a condição social atual e lutem por um mundo onde as pessoas não precisem procurar atendimento médico por uma consequência física de um problema psicológico chamado CARÊNCIA. Sejam dignos do termo “humanização” e ajam como tal.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Idosos


Desde o início do meu trabalho em hospital, os setores pelos quais passei mais frequentemente admitem idosos, fazendo com que, inevitavelmente, eu desenvolvesse grande apreço por eles. A partir de então o meu pensamento e minha maneira de agir relacionada aos pertencentes da “melhor idade” transformou-se completamente – não que eu os ofendesse, mas também não julgava que necessitassem de tratamento tão especial quanto anunciavam.
Com o decorrer dos anos, as pessoas que alcançam a terceira idade adquirem alterações físicas e a redução de suas propriedades organolépticas e neurológicas, resultando em um convívio social limitado. Dependendo da patologia instalada, serão aos poucos confinados em seu próprio leito – restrição essa que não tenho nem ideia do quão ruim possa ser. Essa é uma evolução natural do ser humano, devendo ser compreendida pelos familiares e, estes, tendo por obrigação moral retribuir os cuidados e afetos obtidos durante todo o seu desenvolvimento até a vida adulta.
Em se tratando do idoso como um ser social, são várias as injustiças pelas quais são coagidos a enfrentar: muitos sofrem maltratos por vezes decorrentes de deus próprios familiares, vítimas de uma assistência básica precária, abandonos em casas de apoio ou até mesmo nas ruas, longas filas constituídas por adolescentes mal educados e, a mais perturbante: muitos deles vão à óbito antes mesmo de usufruir da tão sonhada aposentadoria. Tanto que contribuíram para o desenvolvimento social e quando a idade avança mais rápido que a agilidade de raciocínio, são pressionados à continuar trabalhando, sem direito ao repouso. Essa atitude acarreta na aceleração do desgaste físico e psicológico, podendo anteceder a morte. A situação consegue ser ainda pior quando o idoso é tratado como paciente, pois a tentativa de controlar a sua moradia ou força-los a prorrogar o tempo de trabalho torna-se insignificante comparado ao infeliz costume de certos “profissionais” tentarem delimitar o período de vida que eles podem desfrutar. Fundamentando melhor, o clássico “idoso já viveu demais” ocorre mais frequentemente do que a sociedade imagina – essa é uma puta realidade.
Prestar assistência aos idosos é muito mais agradável do que cuidar de adolescente revolucionário ou até mesmo de pessoas adultas que dificultam o trabalho da enfermagem o máximo que podem. A maioria deles colabora com o nosso serviço e compreende que certos procedimentos dolorosos são necessários para a cura, mesmo quando se encontram dispneicos, com impossibilidade de acesso venoso, acamados, sentindo dor e até mesmo aqueles que em algum momento da vida tiveram que amputar algum membro. Obviamente que há exceções, sempre existe um ranzinza que além de não favorecer o nosso auxílio, ainda dificulta nossa vida com ações dramáticas que conduz o observador a crer em maltrato por parte do profissional. Porém, de uma maneira geral, somos recebidos com um enorme sorriso e palavras de compreensão: “Tá tudo bem, pode continuar.”, sendo o melhor momento quando agradecem gentilmente e amparam as nossas mãos em seus colos, acariciando-as. Não existe cena mais recompensadora do que essa. Além do mais, a ausência de algum parente paciente que esteja disponível para dialogar com eles acarreta em desabafos de experiências de vida, muitas vezes sendo bastante útil para nós mesmos, pois podemos redefinir nossas prioridades de acordo com as suas histórias – as quais nos mostram o quanto temos primazia por inutilidades que não acrescentarão em nada no nosso amadurecimento.
Eu tenho plena consciência que ofereço a melhor assistência e atenção possível. Executo carinhosamente as minhas atribuições devido ao amor que sinto pela profissão e pelos idosos, além de cometer o mais célebre pecado: envolvimento emocional com meus pacientes. Mesmo tendo conhecimento do quão abstido esse sentimento deve ser, pra mim é inevitável e, sinceramente, nem busco me esquivar.

PS: Há tempos que tento fotografar um idoso da cabecinha de algodão doce, mas como só tenho oportunidade em situações não-convencionais, aí vai uma foto do meu pai que nem é tão idoso, mas que já tem lindas ruguinhas.